Luís Vaz de Camões - Soneto 36 - Presença Bela, Angelica Figura





Luís Vaz de Camões - Soneto 36 - Presença Bela, Angelica Figura


Presença bela, angélica figura,

Em quem, quanto o Céu tinha, nos tem dado.

Gesto alegre de rosas semeado,

Entre as quais se está rindo a formosura;


Olhos, onde tem feito tal mistura

Em cristal puro o negro marchetado,

Que vemos já no verde delicado

Não esperança, mas inveja escura:


Brandura, aviso e graça, que aumentando

A natural beleza com um desprezo,

Com que, mais desprezada, mais se aumenta:


São as prisões de um coração que, preso,

Seu mal ao som dos ferros vai cantando,

Como faz a sereia na tormenta.




 Luís Vaz de Camões - Soneto 36 - Presença Bela, Angelica Figura