Nosso país, o Brasil, assemelha-se a um grande mosaico formado por milhões de pequenas peças que representam cada um de nós.
Somos um povo constituído pela mistura de vários grupos humanos formados por pessoas nascidas no Brasil e em muitos outros países e continentes, as quais adotaram a nacionalidade brasileira. São pessoas com características físicas diferentes, sotaques e costumes diversos.
CALIXTO, Benedito. Anchieta e Nóbrega na cabana de Pindobuçu. 1853-1927. Óleo sobre tela. Museu Paulista da USP.
A atuação dos padres missionários contribuiu fortemente para o uso das línguas indígenas, uma vez que encontraram muitas dificuldades ao usar a língua portuguesa na catequese dos índios.
Somente na segunda metade do século XVIII, com a implantação do uso da língua portuguesa por meio de decreto do governo de Portugal, é que se obrigou o ensino da gramática portuguesa no Brasil.
Houve também uma grande influência das culturas africanas no modo de falar no Brasil, principalmente nas regiões onde o trabalho escravo foi mais marcante.
Um exemplo dessas influências são as inúmeras palavras de origem africana que foram incorporadas ao nosso idioma como: dengo, cafuné, mulambo, samba, moleque, batuque, macumba, cachimbo, angu, caçamba, quitute, camundongo, cafajeste, mocotó, jiló, mucama, catinga, tanga, entre muitas outras.
A base da vida religiosa brasileira também foi bastante diversa. Povos de culturas e origens diferentes, convivendo em um mesmo espaço, produziram uma mistura de crenças e religiões.
Os padres jesuítas e outras ordens religiosas que vieram para o Brasil tentaram, com a catequese, diminuir os conflitos existentes entre os portugueses e os indígenas. Porém, ao criar escolas para crianças indígenas, ensinavam também muito da cultura europeia.
Já entre os africanos, que foram trazidos como escravos para o Brasil, a prática de suas religiões de origem era uma forma de resistir à escravidão e continuar com a sua cultura no Brasil. Proibidos de praticar suas crenças, os africanos acabaram adaptando seus cultos no Brasil. Iemanjá, a mãe de todos os orixás, passou a ser também Nossa Senhora da Conceição. Oxalá, que originalmente era o orixá da criação, passou a ser conhecido como Nosso Senhor do Bonfim.
No Brasil colonial, por exemplo, a mais popular de todas as festas era realizada em louvor ao Divino Espírito Santo, que desde o século XIV ocorria em Portugal.Em tal ocasião, era coroado um imperador que desfilava pelas ruas com sua corte. Semelhantemente a essa festa, os africanos escravizados no Brasil encenavam a eleição de um rei, que era coroado e desfilava pelas ruas com sua corte.
Nem todas as pessoas que vivem no Mato Grosso do Sul nasceram aqui. Assim como os demais estados do Brasil, a composição da população é muito diversificada e as influências na nossa cultura também é muito grande. A saltenha, por exemplo, espécie de pastel de forno, muito consumido no estado, trata-se de uma influência culinária dos bolivianos que para aqui vieram. Deles também temos a flauta andina chamada “tarca”.
Este modelo de flauta de bico quadrado, de madeira massiva, frequentemente é esculpida e usada para acompanhar as danças folclóricas.
Da mesma forma que existe uma grande variedade e influências nas festas, na religiosidade, no vocabulário, na cultura de modo geral, a culinária típica do estado do Mato Grosso do Sul também tem herança forte do encontro entre as culturas indígenas, africanas e europeias e de vários estados do país, bem como dos países vizinhos.
Durante os séculos XVI e XVII, quando a capitania de São Paulo, antes chamada de São Vicente era muito pobre, pois estava longe do eixo nordestino produtor de açúcar, os colonizadores foram adquirindo parte dos hábitos alimentares e agrícolas dos índios, que eram as farinhas (de mandioca, de trigo ou de milho). A farinha de mandioca, por exemplo, era o alimento preferido dos bandeirantes, pois se conservava por mais tempo. Além disso, os bandeirantes costumavam plantar feijão, abóbora e milho durante o percurso para comê-los no retorno de suas viagens.
O milho se tornou muito importante ao longo do tempo, tanto na região central do Brasil como no Mato Grosso do Sul por causa de farinhas, canjicas, curaus, pamonhas, entre outras. O uso da mandioca, do milho, do feijão, da batata-doce e outros alimentos são influência das culturas indígenas incorporadas pelas tradições dos viajantes.
No Mato Grosso do Sul, a diversidade de pratos e costumes ligados à culinária é resultante da variedade de povos que aqui já viviam e dos que aqui se instalaram.
A forte influência indígena se traduz no gosto pelos frutos do mato, como a guavira, o cajuzinho, o pequi, pela mandioca e peixes variados, caldo de piranha, sopa paraguaia, chipa, puchero. O gosto por uma infinidade de pratos que vão do churrasco, do arroz de carreteiro, a farofa de banana, a polenta, o quibe até o yakisoba e por doces como rapaduras, geleia de mocotó, canjica, sorvete de bocaiuva, entre outros, são apenas alguns exemplos da diversidade cultural desta terra.
A migração de gaúchos, que teve início ainda no século XIX pela fronteira com o Paraguai, aumentou o gosto pelo consumo da erva-mate na região. Apesar da erva-mate já ser cultivada pelos guaranis antes mesmo da chegada dos colonizadores na América, foi principalmente devido à vinda dos gaúchos para a região que se desenvolveu a cultura do uso da erva-mate para o chimarrão.
A pequena cuia do mate foi substituída pela grande cuia do chimarrão e nas últimas décadas o costume de se dançar o chamado “vanerão” e apreciar um bom churrasco tornou-se marca importante no estado do Mato Grosso do Sul.
Na música, mais precisamente, existe uma mistura de sons como canto de viola, sertanejo, samba, polca, guarânia, chamamé, vanerão, rasqueado, xote, cururu, siriri, pop, rock, forró, chorinho, blues, instrumental, entre outros. Apenas para citar dois exemplos de origem da pluralidade na música no nosso estado, temos as influências dos paulistas que nos trouxeram as valsas e as marchinhas, como também a moda de viola trazida pelos migrantes de Minas Gerais.
Também nas danças e brincadeiras esta variedade se faz presente, por exemplo, na região do Pantanal é praticado o cururu, uma espécie de brincadeira com passos de dança executados pelos violeiros, como flexões simples e/ou complicadas, a fim de proporcionar animação. É praticada apenas por homens que tocam suas violas de cocho e ganzás cantando versos conhecidos ou improvisados sobre o cotidiano pantaneiro.
Entre tantas outras danças que se praticam na região da fronteira está o chamado “chupim” que é dançado ao som e ao ritmo da polca paraguaia, em número de três pares com movimentos da dança conhecidos como: cadena, tourear o par, dançar e rodar o par.
A viola de cocho é um instrumento construído artesanalmente e recebe este nome por ser confeccionada em tronco de madeira inteiriço, esculpido no formato de uma viola e escavado na parte que corresponde à caixa de ressonância. Esse instrumento é feito de materiais da região, como a madeira do sarã ou timbaúba (ou chimbuva), cola de poca, cordas de tripa de bugio ou de ema. A viola de cocho foi reconhecida como patrimônio nacional, registrada no livro dos saberes do patrimônio imaterial brasileiro em dezembro de 2004.
Cuia de tererê.
Mosaico: pavimento de ladrilhos ou pequenas pedras coloridas que, pela sua distribuição, formam desenhos. Conjunto de elementos justapostos ou conglomerados.
Sotaques: pronúncia característica de um indivíduo, de uma região, etc.
Mulambo: farrapo, pano velho, rasgado e sujo.
Angu: papa espessa de fubá ou de farinha de mandioca.
Orixás: divindades cultuadas pelos iorubas, trazidas para o Brasil pelos africanos; também são conhecidos como guias.