Augusto dos Anjos - 144 - A máscara





Augusto dos Anjos - 144 - A máscara


Eu sei que há muito pranto na existência,

Dores que ferem corações de pedra,

E onde a vida borbulha e o sangue medra,

Aí existe a mágua em sua essência.


No delírio, porém, da febre ardente

Da ventura fugaz e transitória

O peito rompe a capa tormentória

Para sorrindo palpitar contente.


Assim a turba inconsciente passa,

Muitos que esgotam do prazer a taça

Sentem no peito a dor indefinida.


E entre a mágoa que a másc’ra eterna apouca

A Humanidade ri-se e ri-se louca

No carnaval intérmino da vida.


Augusto dos ANJOS (1884 - 1914) - Eu e Outras Poesias.


Augusto dos Anjos é um dos mais originais poetas brasileiros, e também um dos mais populares. Sua obra consiste, porém, em apenas um livro. Eu foi publicado ainda em vida do autor; outros poemas, publicados em periódicos ou inéditos, foram coligidos após sua morte e acrescentados ao volume organizado pelo autor, renomeado então Eu e Outras Poesias . Aclamada pelo público e pela crítica, sua obra foi repudiada por muitos em sua época, e ainda causa estranheza, pela mistura de vocabulário coloquial e científico, pelos temas exacerbadamente macabros e pessimistas, pelo exagero sistemáticos na linguagem e no tratamento dos temas. Não obstante as controvérsias que cercam sua obra, muitos de seus versos caíram no uso popular, tais como um urubu pousou em minha sorte , a mão que afaga é a mesma que apedreja e outros.




 Augusto dos Anjos - 144 - A máscara