Augusto dos Anjos - 106 - Infeliz





Augusto dos Anjos - 106 - Infeliz


Alma viúva das paixões da vida,

Tu que, na estrada da existência em fora,

Cantaste e riste, e na existência agora

Triste soluças a ilusão perdida;


OH! tu, que na grinalda emurchecida

De teu passado de felicidade

Foste juntar os goivos da Saudade

Às flores da Esperança enlanguescida;


Se nada te aniquila o desalento

Que te invade, e pesar negro e profundo,

Esconde à Natureza o sofrimento,


E fica no teu ermo entristecida,

Alma arrancada do prazer do mundo,

Alma viúva das paixões da vida.


Augusto dos ANJOS (1884 - 1914) - Eu e Outras Poesias.


Augusto dos Anjos é um dos mais originais poetas brasileiros, e também um dos mais populares. Sua obra consiste, porém, em apenas um livro. Eu foi publicado ainda em vida do autor; outros poemas, publicados em periódicos ou inéditos, foram coligidos após sua morte e acrescentados ao volume organizado pelo autor, renomeado então Eu e Outras Poesias . Aclamada pelo público e pela crítica, sua obra foi repudiada por muitos em sua época, e ainda causa estranheza, pela mistura de vocabulário coloquial e científico, pelos temas exacerbadamente macabros e pessimistas, pelo exagero sistemáticos na linguagem e no tratamento dos temas. Não obstante as controvérsias que cercam sua obra, muitos de seus versos caíram no uso popular, tais como um urubu pousou em minha sorte , a mão que afaga é a mesma que apedreja e outros.




 Augusto dos Anjos - 106 - Infeliz