Augusto dos Anjos - Budismo Moderno





Augusto dos Anjos - Budismo Moderno


Tome, Dr., esta tesoura, e... corte

Minha singularíssima pessoa.

Que importa a mim que a bicharia roa

Todo o meu coração, depois da morte?!


Ah! Um urubu pousou na minha sorte!

Também, das diatomáceas da lagoa

A criptógama cápsula se esbroa

Ao contato de bronca destra forte!


Dissolva-se, portanto, minha vida

Igualmente a uma célula caída

Na aberração de um óvulo infecundo;


Mas o agregado abstrato das saudades

Fique batendo nas perpétuas grades

Do último verso que eu fizer no mundo!


Augusto dos Anjos (1884-1914)

O mais importante poeta do pré-modernismo.

Sua obra poética, está resumida em um único livro "Eu e Outros Poemas".