Augusto dos Anjos - 127 - Festival





Augusto dos Anjos - 127 - Festival


Para Jônatas Costa


Címbalos soam no salão. O dia

Foge, e ao compasso de arrabis serenos

A valsa rompe, em compassados trenos

Sobre os veludos da tapeçaria.


Estatuetas de mármore de Lemnos

Estão dispostas numa simetria

Inconfundível, recordando a estria

Dos corpos de Afrodite e Vênus.


Fulgem por entre mil cristais vermelhos

O alvo cristal dos nítidos espelhos

E a seda verde dos arbustos glabros.


E em meio às refrações verdes e hialinas,

Vibra, batendo em todas as retinas,

A incandescência irial dos candelabros.


Augusto dos ANJOS (1884 - 1914) - Eu e Outras Poesias.


Augusto dos Anjos é um dos mais originais poetas brasileiros, e também um dos mais populares. Sua obra consiste, porém, em apenas um livro. Eu foi publicado ainda em vida do autor; outros poemas, publicados em periódicos ou inéditos, foram coligidos após sua morte e acrescentados ao volume organizado pelo autor, renomeado então Eu e Outras Poesias . Aclamada pelo público e pela crítica, sua obra foi repudiada por muitos em sua época, e ainda causa estranheza, pela mistura de vocabulário coloquial e científico, pelos temas exacerbadamente macabros e pessimistas, pelo exagero sistemáticos na linguagem e no tratamento dos temas. Não obstante as controvérsias que cercam sua obra, muitos de seus versos caíram no uso popular, tais como um urubu pousou em minha sorte , a mão que afaga é a mesma que apedreja e outros.




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